Pesquisa aponta riscos em partir medicamentos pela metade
Parte da substância ativa do comprimido pode se perder ou ficar somente em uma metade
O hábito de cortar comprimidos, comum entre médicos e pacientes, é questionada por um estudo da Universidade Católica de Pelotas (UCPel). A pesquisa sugere que partir medicamentos pode ser prejudicial para saúde. Isso porque, ao quebrá-los, o farelo que se perde pode conter substância ativa ou ficar somente em uma metade.
Já era sabido que comprimidos que têm um invólucro ao redor são feitos para não serem cortados. Para você identificá-los, são aqueles que não têm ranhuras e na bula estão descritos como "com revestimento".
— Alguns anti-inflamatórios são feitos para ser dissolvidos no intestino. O invólucro só se dissolve lá. Mas, caso cortemos o comprimido, pode ser absorvido no estômago e ser irritante para o organismo — explica o presidente do Conselho Regional de Medicina no Rio Grande do Sul (Cremers), Rogério Wolf de Aguiar.
A novidade do estudo, publicado na Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada, é que até aqueles comprimidos que têm marcas próprias para serem cortados podem não ter o efeito desejado caso sejam partidos.
— Como os comprimidos são feitos em laboratório, em larga escala, não temos como ter precisão se a substância ativa vai estar de uma forma homogênea em todo o produto — salienta o professor da UCPel, orientador do trabalho e mestre em ciências farmacêuticas, Fabian Teixeira Primo.
— O que conseguimos provar é que, sendo partido por faca, a mão ou por cortador, a dosagem da medicação quase nunca é exatamente a metade. E, mesmo que seja cortado exatamente na metade, a quantidade de fármacos não será igual nas duas partes — informa a farmacêutica Analú de Ávila Buttow.
A pesquisa analisou um remédio de uso contínuo para tratamento de hipertensão. Mas não chegou a testar nos pacientes a eficácia dos comprimidos partidos. Para a coordenadora do curso de Medicina da UCPel, Vanessa Louise Collete, o ato de cortar o comprimido pode ter implicação no tratamento:
— Se foi indicada uma dose, o ideal é que se tome aquela dose e qualquer modificação pode fazer diferença.
Aguiar entende que, na teoria, o remédio cortado realmente poderia ter um efeito indesejado. Porém, ressalta que na prática diária da medicina os efeitos geralmente não são notados:
— Muitas vezes não faz tanta diferença na clínica. Mas é preciso ter cuidado: o ideal é que se tome a dose correta.
SAIBA MAIS
— O ideal
Comprar comprimidos com a quantidade exata que se precisa. Caso não seja possível, mandar fazer em farmácias de manipulação ou comprar em gotas. No entanto, o presidente do Cremers, Rogério Wolf de Aguiar, adverte que muitas vezes não há nenhuma das opções acima. Então, tente cortar com a maior precisão possível com cortador, pois com faca as chances de erro são maiores.
— Papinha de remédio? Nem pensar.
Esmagar o remédio e misturar com comida ou apenas esmagá-lo não é recomendável. Pois o comprimido tem um período exato para ser digerido e absorvido, e esses processos podem ser modificados, caso seja esmagado, e causar efeitos indesejados.
— Remédios, somente com água
Tomar com suco, por exemplo, que é muito mais ácido que a água, pode alterar a absorção do medicamento. Então, o ideal é sempre tomar com água.
— Pode comer antes?
Depende do medicamento. Alguns requerem que a pessoa se alimente antes de se medicar por serem irritantes para o estômago, mas outros atuam melhor em jejum. Fique de olho na bula e nas indicações de seu médico.
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