5 anos após pacificar área violenta do Haiti, Brasil volta a enfrentar gangues
'Dei o 1º tiro', diz oficial brasileiro responsável pela segurança de Cité Soleil. Soldados do MS foram encurralados em tiroteio, em agosto, e revidaram.
Tahiane Stochero
Do G1, em Porto Príncipe - a repórter viajou a convite do Ministério da Defesa
Mais de cinco anos após pacificar Cité Soleil, área considera pela Organização das Nações Unidas (ONU) como a mais pobre e violenta do Haiti, o Exército brasileiro voltou, em agosto deste ano, a enfrentar grupos armados. Em um dos tiroteios, soldados do Mato Grosso do Sul ficaram encurralados e tiveram que realizar 20 disparos de fuzil, o que não ocorria desde 2007.
Os assassinatos, considerados raros até então, passaram a ser frequentes. Foram de 5 a 10 por semana em uma área de 5 km quadrados. Corpos decapitados, comuns entre 2004 e 2007, voltaram a ser encontrados nas ruas, e tiros ouvidos todas as noites pelos 140 soldados brasileiros, que são originários de Mato Grosso do Sul e estão morando dentro da favela.
Um dos confrontos ocorreu quando 16 soldados brasileiros ficaram encurralados em Boston, uma das áreas disputadas pelos criminosos. “Eu dei o primeiro tiro”, diz o capitão Victor Bernardes Faria, de 32 anos, que comanda a companhia do Brasil em Cité Soleil.
Ele estava junto com os soldados em uma patrulha à noite quando a troca de tiros entre as gangues começou.
“Vi um homem de longe apontando uma arma na minha direção e depois vi o clarão do disparo dele”, conta o oficial, que estava com mais 8 soldados em um beco de uma rua. Mais à frente, na mesma rua, um sargento que comandava o restante do grupo também foi alvo de tiros e revidou.
O comandante lembra ter orientado o subordinado a não avançar, pois os bandidos estavam logo a frente e, se seus soldados saíssem do local onde estavam abrigados, estariam em perigo.
Faria pediu apoio de blindados dos Fuzileiros Navais e do Destacamento de Operações de Paz (DOPaz), a tropa de elite que o Exército possui no Haiti para ações de risco, para resgatar os soldados encurralados.
“Por sorte nenhum dos meus homens ficou ferido. Nossa maior preocupação é com efeito colateral (feridos ou mortos civis nos confrontos). Mas os soldados foram treinados e só atiram quando conseguem identificar e ver o alvo (um suspeito)”, afirma o capitão.
Estes foram os primeiros disparos reais na vida do oficial, que trabalha no 47º Batalhão de Infantaria, em Coxim, no Mato Grosso do Sul. Casado e sem filhos, Faria acredita que os disparos não foram direcionados contra a tropa do Brasil, mas sim, de um confronto entre os bandidos.
Ao contrário de 2007, quando a ONU autorizava o Exército a ter ações pró-ativas e atacar as gangues, hoje esta responsabilidade é da polícia haitiana. O Brasil só dá o apoio necessário. A ONU fez uma investigação sobre o caso e, segundo o capitão, encontrou cartuchos de fuzis e pistolas no local do confronto, tanto usados pelo Exército brasileiro quanto pelos criminosos.
A previsão da ONU, conforme o comandante da Minustah, general brasileiro Edson Pujol, é que a missão chegue a cerca de 3.300 militares em 2016. Os soldados brasileiros devem ser os últimos a deixar a missão, que conta com tropas de 19 países.
"Estamos aqui basicamente para ajudar a PNH a manter um ambiente seguro para que as organizações tanto internas quanto externacionais possam trabalhar. Acho difícil chegar em 2016 e tirar toda a tropa, isso vai ser avaliado anualmente. Vai depender das condições do país de se autogerenciar. No caso da segurança, em especial as condições da polícia de assumir as responsabilidades", aponta.
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