A verdadeira historia dos marmores da AMAN
HENRIQUE LAGE - O CADETE No 1
Gustavo Lisboa Braga Inf. 47
Tradição oriunda da Escola Militar do Realengo, mostrando a integração de brasileiros civis e militares que juntos trabalharam pelo engrandecimento do pais.
Tudo começou ainda no tempo da Escola Militar da Praia Vermelha com Antonio Marins Lage Filho, fundador, em 1891, da Companhia de Navegação Costeira.Sabedor ele que a Escola Militar recebia brasileiros dos mais longínquos rincões, sendo os mesmos, na maioria, provenientes de famílias de parcos recursos, não tinham condições, de no período de ferias, retornarem ao lar.
O velho Lage toma então a seguinte decisão: A Companhia Nacional de Navegação Costeira passaria a fornecer, de graça, passagem de ida e volta do Rio de janeiro para qualquer ponto do pais onde aportassem seus ITAs, a fim de que os Cadetes pudessem visitar, nas ferias, seus familiares.
Tal filantropia foi mantida por seu sucessor ─ Henrique Lage, que a intensificou e ampliou passando a ter um relacionamento mais intenso com a Escola Militar do Realengo: comparecendo as solenidades de formatura, concedendo prêmios aos cadetes melhores classificados nos exames finais dos diferentes cursos.
O relacionamento de Henrique Lage com os cadetes assinala, também, o surgimento de uma amizade fraterna com o General José Pessoa, amizade que perduraria por toda vida. O passo seguinte foi a instituição da Taça Henrique Lage disputada, inicialmente, entre as Escolas Militar e Naval. A partir de 1941, com a criação do Ministério da Aeronáutica, a nova Escola também passou a participar da competição.
A amizade do grande industrial com o insigne general levou Henrique Lage a se engajar no projeto da nova Escola Militar sonhada pelo General José Pessoa. Além de participar dos eventos relativos a nova Escola em Resende como o lançamento da pedra fundamental e outros, ajuda, também, materialmente, quer ofertando o mármore usado na construção, quer fundindo os portões de ferro da Academia nas oficinas da Ilha do Viana, quer doando toda a prataria para o rancho dos cadetes.
Tudo nos leva a crer que Henrique Lage transferiu para os cadetes todo o carinho que seria dedicado aos filhos que não tivera. Chegou ao ponto de deixar para ser feita no Jardim Botânico a Casa do Laranjeira. Aquele cadete que não tinha família no Rio de Janeiro e passava o fim de semana em Realengo chupando laranja passaria a ter uma pousada na zona sul, próximo da praia.
A ida da Escola Militar para Resende eliminou a necessidade da Casa do Laranjeira, o que levou o General Dulcidio Espirito Santo Cardoso, quando comandante do Colégio Militar do Rio de janeiro, a levantar a ideia de la se instalar um Colégio Militar da Zona Sul, funcionando só como internato e atendendo a filhos de militares servindo na fronteira ou no exterior. A ideia era muito boa mas não vingou por falta de recursos.
Em 1966, tendo o Exército interesse em ter sob seu controle toda área da Praia Vermelha, faz por intermédio do General Angelo Mendes de Morais a transferência do Instituto de Belas Artes (IBA) e da Escola de Artes Visuais (EAV), que funcionavam na Praia Vermelha, para o Parque Lage, onde permanecem ate hoje, sob a forma de comodato.
Tais provas de amizade de Henrique Lage com a Escola Militar, seu relacionamento fraterno com o General José Pessoa, fizeram com que ele fosse carinhosamente tratado como o Cadete No 1.
Acresce que ao falecer, em 1942, foi alvo de significativas homenagens dos cadetes, sendo sepultado, como era seu desejo, com o primeiro Estandarte do Corpo de Cadetes que lhe fora ofertado em vida e que, até então, ocupara lugar de destaque na sua residencia na rua Jardim Botânico.
O próprio General José Pessoa foi quem colocou o Estandarte no ataude de Henrique Lage, quando, inclusive, pronunciou comovente discurso. Outras personalidades na ocasião usaram da palavra e, em nome dos cadetes, usou da palavra o cadete Jarbas Passarinho em eloquente pronunciamento.
Como consequência feliz de tudo que foi relatado, o comandante da Escola Militar do Realengo ─ Coronel Mario Travassos, que seria depois em 1944, o primeiro comandante da nova Escola Militar em Resende, pelo Boletim Escolar no 59, de 13 de marco de 1943, deliberou conceder, como homenagem excepcional ao grande patriota HENRIQUE LAGE, o titulo de CADETE No 1, pelo documento oficial:
HENRIQUE LAGE
I CADETE No 1
O comandante da Escola Militar deliberou, como homenagem excepcional ao grande patriota HENRIQUE LAGE, conceder em sua memoria o titulo de CADETE No1, deixando de distribuir esse numero aos Cadetes da Escola.
Passando amanha, 14 de marco, data natalícia do insigne brasileiro o maior amigo da ESCOLA MILITAR este Comando baixa as seguintes instruções sob o titulo acima:a) O CADETE No 1 pertencerá sempre ao estado efetivo da Escola Militar e do Corpo de Cadete e figurara nas relações gerais de uso interno;
b) Anualmente o CADETE No 1 sera incluído na subunidade a que pertence o Cadete porta-estandarte da Escola e figura como efetivo dessa subunidade;
c) Em todas as chamadas das revistas do recolher o sargento de dia a subunidade da letra b chamara o CADETE No 1, cabendo ao cadete porta-estandarte responder: HENRIQUE LAGE!
d) Quando o cadete porta-estandarte deixar de figurar na Revista do recolher, caberá ao cabo de dia responder a chamada do CADETE No 1
II INCLUSAO DO CADETE No 1 EM SUBUNIDADE
Em consequência do item anterior, e nesta data incluído na Bateria de Artilharia desta Escola, o CADETE No 1 HENRIQUE LAGE, o qual passara a figurar nos pernoites dessa subunidade a partir de 15 do corrente.
Coronel Mario Travassos Cel Cmt.
(Transcrito do Boletim Escolar no 59 de 13 de marco de 1943)
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